Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!
Mas o alvo, na certa não te espera!
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
(Paulinho Moska)
- Por que você simplesmente não me deixa fazer as coisas do meu jeito? – a moça que estava no quarto gritou. Não agüentava mais todos querendo controlá-la.
- Mas meu anjo… - ele tentou acalmá-la
- Meu anjo? – ela o interrompeu. – Como você ousa me chamar assim? Esse tipo de coisa acabou há muito tempo. – ela suspirou como se estivesse cansada daquela situação.
- Que tipo de coisa? – ele já não estava entendendo.
- A paixão que havia entre nós. Esqueça esses apelidos bobos de quem está apaixonado. Porque eu não estou apaixonada por você. – ela gritou todas as palavras de uma vez só. Sem tempo para arrependimento.
- Você não… - ele não conseguiu terminar a frase. Achou que não era verdade. – É impossível Hannah.
- É bem possível. – ela fez uma pausa, iria chorar a qualquer momento. – Eu estava disposta a passar o resto da minha vida com você, estava disposta a me casar de verdade com você. Mas Pedro, você não é quem eu pensei que fosse.
- Hannah você ficou louca? Eu sou exatamente o mesmo. Eu não mudei nada.
- Eu sei Pedro. Eu que me iludi, achando que era algo que nunca poderia ser. – ela respirou fundo para tentar continuar. – Sinceramente, eu não sei dizer, se você mudou, ou era eu que não te conhecia. Você vive dizendo para mim o que é certo ou errado. Eu não quero, não preciso de um pai. Eu queria um namorado.
- Eu só quero o melhor para você. Não quero que você sofra.
- Mas é para isso que serve a vida, dar a cara à tapa. E é isso que você não entende. Eu cansei. – ela começou a colocar algumas roupas em uma mochila.
- O que você está fazendo? – ele ficou transtornado ao vê-la pegando as roupas.
- Eu estou indo embora Pedro.
- Para a casa da sua mãe?
- Não, ela se parece demais com você.
- Hannah, espera. – ele se levantou e pegou delicadamente a mão da namorada. – Eu te amo. Não quero que você vá.
- Esqueça Pedro. – ela estava decidida.
- Por favor, eu prometo mudar, tentar ser mais como você.
- Não. Não seria justo mudar por minha causa.
- Eu faria se te deixasse feliz. – ele faria tudo para tê-la por perto.
- Eu acho muito legal da sua parte dizer esse tipo de coisa. Mas não é assim que as coisas funcionam.
- Você não sabe como as coisas funcionam. É por isso que precisa de mim.
- É por isso que eu não preciso de você. – ela soltou a mão da dele. – Posso descobrir como tudo funciona, se você parar de tentar me controlar. E não é só porque você é dez anos mais velho que eu que sabe sobre qualquer coisa. – ela voltou a colocar algumas roupas na mochila.
- Apenas me responda. Para onde você está indo? – ele estava preocupado com ela.
- Qualquer lugar, lugar nenhum.
- Quer dizer que não sabe para onde está indo?
- Exatamente.
- Como você vai sobreviver, sem dinheiro, sem destino? E quando você volta?
- Eu tenho um pouco de dinheiro no banco, e eu sei dar um jeito se precisar. E… eu não sei se eu vou voltar, nem para esse apartamento, nem para essa cidade.
- O que? Hannah, você enlouqueceu de vez.
- Acredite, eu nunca estive tão consciente do que queria.
- E o seu emprego? Você sempre sonhou com ele.
- Não. Você sempre sonhou que eu sonhava com ele. Eu gostei de trabalhar naquela revista durante um ano. Mas não é o emprego dos meus sonhos. E eu posso arranjar outro.
- Hannah, ponha os pés no chão uma vez na vida. Quando acabar o dinheiro, o que você pretende fazer? Se prostituir? Entenda, o mundo é cheio de perigos, podem te assaltar, te estuprar… Eu morreria se algo acontecesse com você.
- Não seja tão dramático. E… eu tenho consciência dos perigos dessa viagem. Mas é por isso que eu quero ir. Quero viver o mundo real, e não apenas ouvir falar dele.
- Isso é real, Hannah! – ele apontou para a sala do apartamento. – Eu sou real. Essa é a sua realidade. Nossa realidade. Seu lugar é ao meu lado.
- Não Pedro. Meu lugar nunca foi ao seu lado. Eu nunca pertenci a você. E eu quero conhecer o mundo, conhecer a vida. Não quero ficar presa a esse apartamento ao meu trabalho e a você. Sei o quanto você gosta disso. Mas nós somos diferentes. – ela gritou a última frase, para que ele conseguisse escutar e entender. – Você é um cara incrível, e merece alguém que goste disso. – tentou ser um pouco mais gentil na última frase. O arrependimento estava começando a misturar-se com os outros sentimentos.
- Esse momento de rebeldia está durando muito. Desista disso, nós dois sabemos que não vai dar certo. Eu te conheço. Você voltará correndo para mim em uma semana.
- É exatamente por isso que você não me conhece. Eu tenho certeza do que estou fazendo. Eu não vou voltar. – ela pegou algumas coisas no banheiro, colocou na mochila e foi em direção a porta.
Hannah deu uma última olhada no apartamento. Era um belo lugar. Porém era igual a todos os outros que já havia visto. O mesmo estilo de decoração o mesmo tom nas paredes. Tudo parecia sempre tão repetido, repetitivo. Definitivamente ela não se encaixava:
- Hannah… - o namorado se aproximou dela. E ela colocou o dedo indicador em seus lábios. Em um sinal para que não dissesse mais nada.
- Shh. – foi apenas o que ela disse. – Me deixe olhar uma última vez para você.
Ela passou um bom tempo olhando para os olhos cor de mel que decifravam tudo o que ela pensava. Tentou perceber o que havia de tão intrigante naqueles olhos que a faziam querer descobrir seus segredos. Depois olhou os belos lábios. Olhou tentando descobrir qual a droga que os deixava tão viciantes. Memorizou cada traço do rosto dele. Ela ainda o amava. Concluiu enquanto ajeitava os fios de cabelos que insistiam em cair pela testa dele. Mas eram diferentes demais, queriam coisas distintas. Jamais daria certo.
Hannah abriu a porta e deixou que ele a beijasse mais uma vez. Sentiu aquele perfume inebriante que emanava dele e entrou no elevador para não voltar mais. Enquanto a porta do elevador fechava, ele murmurou um pesaroso “Eu te amo” e ela derramou algumas lágrimas presas há muito tempo.
Depois que ela partiu, Pedro deixou um pesado suspiro escapar de seus lábios. Estava preocupado com ela, sabia que nada de bom poderia acontecer nessa viagem sem destino, sem planejamento. Sabia também que, por pior que estivesse Hannah não iria voltar, nem iria pedir ajuda.
Hannah entrou no carro e jogou a mochila no banco do passageiro. Não sabia para onde ir, mas sabia que não iria voltar. Não precisou nem refletir, iria para fora da cidade. Deu a partida no carro e saiu do prédio.
Deixou que a intuição a guiasse para qualquer lugar. Queria esquecer, queria não pensar mais. Desejava voltar para Pedro, com toda a segurança que ele poderia lhe dar. Porém algo lhe dizia para continuar dirigindo. Havia algo em si que gostaria de ser livre.
Decidiu colocar uma música para tentar esquecer tudo o que havia deixado para trás. Cantava junto para tentar não pensar:
Você que já esteve no céu
Foi tudo divertido pra você
Chega a hora então
De provar tudo que existe
Tire agora os sapatos
Jogue tudo pro alto
Sinta o chão
Aprender a andar descalço
Num mundo de asfalto
E sem coração
Tentava impedir as lágrimas, porém elas eram mais fortes. Todas as mágoas, todos os desejos, arrependimentos… Tudo que queria esquecer ia naquelas lágrimas que rolavam até caírem por seu queixo.
Se tudo aquilo fosse um filme romântico, Pedro a seguiria e tentaria impedi-la. Porém não era um filme, e, mesmo se fosse, ela duvidava que fosse ceder à insistência de seu namorado.
- Talvez aquele belo cavaleiro de armadura brilhante que você pensou que conhecia, fosse só mais um idiota enrolado em papel alumínio. – ela comentou consigo mesma. Tentando se fazer rir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário