terça-feira, 10 de abril de 2012

Quando o Amor Termina

-Eu não agüento mais conviver com você. – ele gritou tentando fazê-la entender.
-O que? – ela estava espantada. – O que houve com você Miguel? Nós somos tão felizes.
-Você é feliz. – ele deu ênfase aquelas palavras. – Eu simplesmente não consigo mais. Os beijos que nós trocamos, as palavras de amor… Tudo isso soa tão falso.
- É outra mulher não é? – as lágrimas começavam a escorrer pelos olhos escuros dela.
Ele abaixou a cabeça e suspirou:
-Você tem outra? Me responda Miguel. – a voz dela era desesperada, como se aquilo tudo fosse uma grande piada, e que dali a alguns minutos eles voltariam a se amar como antes.
            Fez-se um silêncio constrangedor. Ela podia quase sentir o “sim”, como um tapa no rosto. Mas dentro de si, tinha uma certeza inabalável de que o marido iria negar.
             -É Elena, eu conheci outra mulher.
             Ela se aproximou dele.
             -Não Miguel, é mentira não é? Eu sei que é mentira. Todos esses anos que nós passamos juntos, isso sim importa. Você não me largaria por conta de outra qualquer. Eu sei.
             -Não, você não sabe Elena. – ele fez uma pausa, tentando encontrar palavras. – Ela não é outra qualquer. Eu sinto por ela aquele mesmo encantamento que tinha por você no começo, só de que uma forma mais intensa.
             -Ela soube te seduzir. É simplesmente isso. Esse sentimento é algo que vai passar. Sou eu quem você ama.
             -Não é isso Elena. – ele voltou a gritar. Queria que a esposa entendesse que ele não a amava mais. – Nosso amor acabou há muito tempo, você foi à única que não percebeu isso.
              -Miguel… - ela o olhou nos olhos, intensamente. – Não jogue tudo fora.
              -Eu não posso mais ficar nessa casa. – ele foi para o quarto arrumar uma mala enquanto ela se sentava no sofá e deixava as lágrimas caírem livremente.
               Quando Miguel retornou a sala, ela não tentou convencê-lo a ficar. Ela já havia sido ‘a outra’ por algum tempo. Não podia culpar essa mulher por querê-lo só para si. Ela também já o havia querido:
               -Você já tomou a sua decisão. E eu, sozinha, não irei mudá-la. – ela disse, tentando mostrar-se inabalável.
               -Eu ainda tenho um carinho muito grande por você Elena, saiba disso.
               -Não tente parecer bonzinho. – aquilo a havia deixado irritada. – Você mesmo disse que o amor entre nós havia acabado. – e dito isso tirou do dedo a aliança que levava consigo há quase dez anos, e a entregou para ele. – Faça o que quiser com isso.
               Ele deu alguns passos em direção à porta, mas antes dele sair, ela voltou a falar:
               -Pode voltar aqui amanhã, se quiser. Com ela, eu quero dizer. Eu não pretendo ficar.
               -Para onde você pretende ir? Eu sei que você não fala com sua família desde que os abandonou para viver comigo.
               Por um instante ela ficou sem palavras. E sentiu falta da família. Pela primeira vez, desde que moravam juntos:
               -Para a casa de um amigo. Não que importe para você.
               -Eu não quero que você fique sem nada. Eu vou te apoiar.
               -Eu não preciso de você, se você não precisa de mim. – ela tentou fazer aquela frase soar com desprezo, porém foi uma tentativa falha. As lágrimas saíam e sua voz saiu um tanto chorosa.  – Agora, pode ir embora. Corra para os braços dela, antes que ela te abandone.
                Ele não queria deixá-la, considerava-a especial. Porém nada mais havia entre os dois. Continuou indo até a porta, e saiu, deixando-a.
                Cada segundo para Elena parecia uma eternidade. Tudo a sua volta trazia lembranças. Porém, o pior lugar era o quarto. Abriu o armário, e viu algumas peças de roupa dele. Seu cheiro ainda estava presente, ele ainda estava presente.
                Encostou a cabeça no travesseiro que ele usava para dormir. Lembrou-se, então, da noite de algumas semanas atrás. Miguel chegara em casa mais romântico que o normal, recordando o tempo que ainda não estavam casados e tinham que se encontrar escondidos.
    Daquela noite o que restou foi o filho que ela estava esperando. Pretendia contar a ele sobre o bebê naquele dia, mas o marido estava tão diferente, tão estranho, que resolveu adiar a notícia. E, naquele momento, decidiu não contar mais que ele seria pai. Não merecia saber.
     Imaginou que na próxima noite, ele não estaria mais deitado com ela naquela cama. Outra ocuparia seu lugar. E com isso, foi inevitável pensar como essa outra seria. Provavelmente mais bonita que ela. Ou talvez apenas mais sedutora. Quem sabe fosse mais velha, achou que o ex-marido (teria que se acostumar com essa palavra) desejava companhia de alguém da idade dele.
     Cada pensamento que tinha a fazia derramar lágrimas e lágrimas.

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